Carne Barrosã
Entrevista ao Sr. Presidente da Direção CAPOLIB – Eng.º Albano Alvares da Cooperativa Agrícola de Boticas
Ano de Fundação
1952
N.º de Associados
Mais de 1500.
Localização
Município de Boticas, em Trás-os-Montes.
Objetivos
Auxiliar os produtores agrícolas da região com os meios técnicos que lhes permitam aumentar e melhorar a sua produção, centralizar as compras e promover a comercialização.
Em 1994 a Cooperativa Agrícola de Boticas procedeu à criação do Agrupamento de Produtores de Carne Barrosã. Quais os objetivos que estiveram na base da sua constituição?
A primeira razão prendeu-se com a criação de uma estrutura que possibilitasse organizar a produção de carne dos criadores de Raça Barrosã, agregados numa estrutura que definisse regras, de modo a tirar este produto específico da mistura de carnes que se vendia sem marca, sem rótulo e sem uma identidade própria. Por outro lado, pretendeu-se identificar esta carne, de modo a que o consumidor ao dirigir-se a um balcão de venda, não corresse o risco de ser enganado com nomes que não correspondessem ao produto supostamente adquirido.
Quais as principais funções da Cooperativa junto dos Produtores de Carne Barrosã?
A função da Cooperativa assenta nos princípios acima já identificados:
- Organizar a produção, dando seguimento ao registo que os agricultores fazem no livro de registos genealógico na AMIBA – Associação Nacional de Criadores de Raça Barrosã;
- Proceder à recolha e abate dos animais em Matadouro autorizado para esse fim;
- Desmanchar e embalar o produto conforme instruções dos nossos clientes e proceder à respetiva expedição;
- Sensibilizar os nossos produtores para as boas práticas de produção, observando sempre um grande respeito pelos valores agro-ambientais que as raças autóctones representam para a preservação do meio ambiente;
- Ganhar escala, pela comercialização conjunta da carne dos diversos produtores aderentes, de forma a conseguir mais-valias económicas, de imagem e de marketing com o objetivo claro e inequívoco de trazer valor acrescentado para a produção.
Ao longo dos anos, a Carne Barrosã tem somado prémios em diversos concursos. Quais os que mais gostaria de destacar?
Desde sempre a Carne Barrosã foi reconhecida nos mais diversos concursos como uma das melhores carnes de bovinos portugueses, mas o que gostaria de destacar foi um prémio que nos distinguiu na Feira Nacional de Agricultura em Santarém como a Melhor das Melhores carnes do país.
Nos últimos três anos temos também sido distinguidos com a classificação de 3 estrelas no Great Taste Award como o melhor sabor. Esta é a distinção máxima atribuída, num concurso que atendendo ao grau de exigência dos critérios a avaliar pelos jurados se poderá, de alguma forma, comparar às Estrelas Michelin dos produtos.
Morfologicamente, o que distingue a Raça Barrosã das restantes? Qual a sua principal distribuição geográfica?
A raça Barrosã, habitantes ancestrais das zonas de Montanha, referência emblemática da bovinicultura nacional, caracteriza-se por animais de médio porte, cuja área geográfica de produção contemplada no Caderno de Especificações abrange 21 concelhos do Norte de Portugal, sendo 2 em Trás-os-Montes e os restantes no Entre Douro e Minho.
São estes animais que têm contribuído para a sustentabilidade dos territórios, equilíbrio do habitat e preservação da paisagem.
É a Cooperativa Agrícola da Boticas que detém a gestão da Denominação de Origem Protegida (DOP) da carne Barrosã. Como caracteriza, em termos visuais, textura, tenrura e sabor esta carne?
Quando foi atribuído à Cooperativa Agrícola de Boticas a gestão da DOP da Carne Barrosã, uma das tarefas essenciais foi retirar a Carne Barrosã da confusão em que se encontrava, distinguindo as suas qualidades.
Essa estratégia teve como objetivo principal realçar e particularizar os seus nobres atributos, nomeadamente a cor vermelho vivo, muito apelativa, a sua textura muscular muito tenra, uma suculência superior e um requintado e nobre sabor, características estas que se devem ao seu património genético e ao maneio produtivo e alimentar extensivo que proporcionam e favorecem a precoce infiltração de gordura no interior das fibras musculares, conferindo-lhe todas estas características diferenciadoras.
Neste enquadramento, como define a relação e parceria com a PEC Nordeste e quais as suas mais-valias?
A nossa parceria com a PEC Nordeste ultrapassa a simples relação comercial, assenta numa vivência de confiança e apreço pelo trabalho a montante e a jusante, complementando-nos naquilo que é o objetivo comum, proporcionar aos nossos clientes o melhor serviço possível, de modo a satisfazer o mercado e o consumidor que se revelam cada vez mais esclarecidos e exigentes.
Todos os serviços prestados traduzem-se numa mais-valia recíproca consubstanciada, por um lado, na satisfação pelos serviços prestados ao Agrupamento de Produtores e, por outro, na mais-valia acrescentada pelo produto Carne Barrosã – DOP, ao portfólio de clientes da PEC.
Num mercado cada vez mais competitivo e complexo, como é o negócio global do comércio de carne, como perspetiva a necessidade de ganhos de escala necessários que aconteçam em todas as etapas da fileira, e qual o papel que o Grupo AGROS poderá ter nesse contexto?
A função do mercado deve ser enquadrada numa perspetiva da nossa realidade.
Não somos, nem nunca seremos, um produto de massas, quer pela quantidade produzida, quer pelo preço da carne.
Isto não significa que eventualmente não possamos exportar pequenas quantidades, mas o nosso círculo será sempre o mercado português.
A AGROS, como organização nacional com forte cunho Nortenho tem vindo a diversificar as suas atividades.
Gostaríamos que num futuro próximo e à imagem do trabalho de organização e comercialização do leite, pudéssemos assistir a um papel liderante e agregador noutros setores de atividade no Norte do País, pois só uma organização estruturada como a AGROS nos poderá ajudar, de forma a que as raças autóctones e outras fileiras possam ganhar escala em torno de uma organização tão credível como é esta União de Produtores.